Uma Idade das trevas normalmente é descrita como um período de inexistência de registos históricos, um período de ignorância da sociedade devido à fraca proliferação da informação e avanços tecnológicos, um período de tirania, de injustiça e/ou desrespeito por direitos humanos ou a combinação destes todos.
Adicional: Uma Idade das trevas não é um período onde há muita gente entrevada.
Ora, a descrição mais usada é exactamente aquela duma sociedade ignorante por falta de informação, ou por falta de educação (de maneira a poder ler a informação).
Eu na minha humilde opinião acho que se está a viver uma Idade das Trevas, devido, mas não limitado, ao excesso de informação.
Há informação a mais, há demais informação errada, há informação subjectiva e descaradamente parcial, há informação irrelevante, e o pior disto tudo é que quem vê gosta.
Nota: Apesar de assim o parecer não, não estou só a falar da TVI e do Correio da Manhã.
Vivemos num mundo em que se um polícia dá um tiro a um criminoso, é abuso de poder, o polícia vai a tribunal fica sem o seu emprego e ainda vai preso e/ou paga multa.
Vivemos num mundo em que quando um preto e um branco (ou inserir duas raças diferentes em vez de “preto” e “branco” e substituir ao longo deste pensamento, sendo a primeira raça uma minoria em relação à segunda) andam à bulha, o branco é concerteza racista, nazi, e o coitadinho do preto não fez nada.
As pessoas olham para o jornal e em vez de vir em destaque uma problemática que afecta a vida de todos nós e que merece e deve ser debatida, vem o golo de não sei quem no jogo do fim de semana, ou a Maria Laurinda que se separou do Zé Tóne pela 50ª vez e que vai na sua 500ª plástica.
Não há distinção entre entretenimento e informação, e mesmo quando o há, ninguém o sabe distinguir. Hoje em dia todos sabem ler e escrever (ou quase todos) mas ninguém sabe processar informação (ou quase ninguém).
É uma época em que temos o conhecimento à distância duns cliques, à distância dos dedos com uma quantidade quase infinita de livros. E aquilo que se escolhe ler é leitura de casa de banho, entretenimento barato sobre relações interpessoais absurdas fictícia (olá escritores tipo Margarida Rebelo Pinto) ou mais ou menos real (olá Caras e afins).
E comem-se Morangos e reza-se às fadinhas para a vida melhorar enquanto se “narcolepsa” a mente com o mais recente merchandise da série sem conteúdo mais recente.
Temos jovens para quem a liberdade não é nada mais que “fazer o que se quer” pensando apenas no próprio umbigo e insultando tudo e todos os que se oponham. Jovens cujo sonho é serem gangstas e criminosos, que não pensam nas consequências das suas acções, e que não se arrependem delas.
Jovens são jovens, já todos nós fomos ou somos. É a normalidade da marginalidade que me assusta. É normal lixar o amigo ou roubar o irmão porque se é mais esperto que ele, se se roubar o indivíduo desconhecido é algo de maior respeito! Ninguém pode confiar em ninguém porque “estamos sozinhos na vida”, porque o que hoje nos apoia, amanhã é o nosso maior inimigo.
Defendem-se ideias de trazer por casa, retirados dum qualquer cd (mais de mp3, quem é que usa cd’s hoje em dia? Pagar quando se pode ter à borla? Óbvio que ninguém merece ser pago pelo seu trabalho!) da mais recente “poeta” que nem sequer sabe cantar e que pelos vistos nem sabe o que é poesia. São os precursores da poesia urbana pois pelos vistos nunca ouviram falar de fado. É um debitar de palavras incessante num ritmo repetitivo como que um martelo que vai batendo até fazer o seu trabalho. E quando isso está enfiado na cabecinha não há quantidade de lógica que retire a parvoíce de lá.
E assim se vive numa sociedade de medo, tirana, não pelos seus políticos, mas pelo perigo que pode vir de qualquer lado, só porque alguém não gostou do nosso olhar, ou porque estávamos sentados onde não devíamos (porque pelos vistos voltámos à prática animal de demarcação territorial).
Mas da pior idade das trevas há um renascimento, até porque acredito no equilíbrio universal e quando há qualquer coisa que é tão podre e infértil é porque de certeza que vem aí algo melhor. Ou então a humanidade pode continuar a surpreender-me e ir-se ainda mais fundo que isto.
Como dizia Einstein: “Duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana; e não tenho tanta certeza sobre o Universo.”